Sobre a parashá Beha’alotecha (baseado no Ari”zal, Sha’ar HaMitsvot e Ta’amei HaMitsvot), é necessário explicações importantes para elucidar as profundas dinâmicas espirituais tratadas aqui. Veja, em Cabalá, Z’eir Anpin é o partsuf/personalidade constituída pelas seis midót/o caráter (de Chéssed até Yessód). Este partsuf é “iluminado” (ativado) pela luz de Ima (que é a sefirah de Binah (ou Ima), e que representa o poder na alma da ‘compreensão’ intelectual, racional). Ou seja, as emoções são ativadas pela compreensão intelectual. Mas a luz de Ima originalmente provém do partsuf de Aba, que é Chochmah (o nível prístino e intenso de insights ainda não desenvolvidos em Binah). Se as emoções se revelam e ‘mantém’, a pureza da experiência de Aba (depois do desenvolvimento em Ima), então o processo emocional é “inoculado” contra as infecções das forças do mal que buscam corromper a dinâmica intelecto-emocional através de dirigi-lo para um caminho errado. Este “redirecionamento” significa a degeneração de todo processo mental que iniciou em kedusha/santidade, a saber, nos pensamentos de Torá. Os mochin/mentalidades se profanas/seculares, já são por si só corrompidas, portanto a sequência do processo intelecto-emocional apenas fortalece o erro, levando assim as ações que transgridem as leis naturais Divinas. Portanto, existe aqui uma diferença do indivíduo que nem teve pensamentos elevados e por isso, apenas se mantém constantemente no grau profano, e um outro indivíduo que tem pensamentos elevados e que estes se degeneram e ele, por exemplo, ao transgredir uma halachá/lei da Torá, que D-us não permita. O segundo é muito pior, no sentido de que a degeneração ocorre em um nível espiritual muito alto, enquanto que no primeiro caso, a pessoa existe em um estado já totalmente rebaixado. Isto está de acordo com o espírito de que a profanação da “vestimenta intelectual” (vis-à-vis, o pensamento pecaminoso) é pior do que a ação, pois a vestimenta da mente é mais elevada do que a vestimenta da ação. Agora, as luzes que Z’eir Anpin recebe (de Da’at, que afinal recebe de Binah) e difunde são chamadas de os cinco estados de Chéssed e Guevurah. Pela Cabalá, os estados de Chéssed constituem o aspecto principal da Etz Da’at – de onde as klipót/forças antagônicas à santidade derivam a sua vitalidade. Isto é devido ao fato de que, os cinco estados de Chéssed (e os cinco estados de Guevurah) podem ser entendidos como propensões para o aceitar ou rejeitar a conexão emocional à ideia abstrata que emergiu de Aba e depois Ima. Portanto, estes estados são a origem do mal, no sentido em que se a ideia de Torá for rejeitada, a força espiritual que rejeita esta ideia nutre então o lado negativo que se aproveita da difusão emocional (e posteriormente, nas possíveis ações erradas da pessoa) que se revelou, mas não foi usada em santidade. Por isso que alguns judeus não fazem teshuvá como deveriam. Pois como o Da’at deles está corrompido por uma vida de comportamentos que os desalinharam com a Torá, então mesmo quando eles escutam os insights de Torá que são palavras retificadas – que afinal “entraram” neles através do nível mental de Chochmah e Binah – esta corrupção do Da’at propaga uma “luz alterada” para Z’eir Anpin, e a revelação emocional derivada rejeita o insight original de Torá. Além disso, com esta rejeição, a força dos estados de Chéssed que iluminam as midót (Z’eir Anpin) acaba sendo usada então para nutrir a sitra achra/lado do mal, que D-us não permita, o que vem somente a perpetuar o estado de intenso galút/exílio que eles vivem. O Ari”zal explica que Z’eir Anpin precisa “quebrar” os estados de Chéssed a fim de processá-los e difundi-los em um contexto significativo para Nukva (Malchut), que representa o assunto das ações, dos comportamentos do homem. Ou seja, as emoções precisam encontrar “termos” compreensíveis para as ações se manifestarem. Esta manifestação na prática das ações é a própria assimilação destas emoções (que são afinal das contas, “abstrações”) por e em Nukva. Apesar da descida emocional até o nível das ações (pois o grau emocional é mais espiritualmente elevado do que as ações) parecer uma degeneração de um grau superior a um inferior, existe um ‘princípio espiritual’ vital que somente se revela/atua quando nesta descida. Como é sabido, Z’eir Anpin precisa, por lei espiritual, buscar se “unir” com Nukva (pois deste alinhamento provém as bênçãos etc.). Assim, a descida é antes de tudo parte integrante da “dinâmica espiritual” de conexão entre o superior e o inferior, entre “o céu e a terra”. O princípio é chamado de Or Hozer, a “Luz Refletida” – a descida na realidade destas luzes espirituais (que se não corrompidas) sofrem um “rebote” espiritual até o Keter de Z’eir Anpin (o ponto espiritual mais elevado do ‘desejo emocional’), causando o amadurecimento emocional e assim, o aumento na habilidade de alcançar e reconhecer as abstrações e o entendimento das verdades Divinas. Pelo outro lado, se corrompidas, o processo somente faz aumentar o desvio da pessoa em relação ao espiritual, ou seja, a sua identificação somente com a realidade física. Isto é assim, pois não há Or Hozer (ou seja, amadurecimento) e a pessoa mantém-se ligada somente ao grau material. Novamente, no caso dos alunos judeus, como eles também não assumem suficientemente a prática haláchica/relativo às leis da Torá, ao rejeitar então o cumprimento das mitsvót eles então não amadurecem espiritualmente. As mitsvót são a manifestação prática da Sabedoria de D-us que é a Torá, e sem a descida para a realidade prática e verdadeira, não existe crescimento espiritual (ou seja, o Keter de Z. A. não amadurece, literalmente). É por isso que (entre outras razões espirituais), os indivíduos que frequentam um Beit HaKnesset/Sinagoga têm uma “facilidade” maior de fazer teshuvá, pois lá eles, primeiro, estão diante de um grau maior de kedusha, e segundo, eles acabam cumprindo na prática várias mitsvót só por estarem lá presentes. E graças à ação da Or Hozer, eles tendem ao amadurecer para um estado intelecto-emocional mais propício ao entendimento da Torá, que favorece (e retifica de fato) o ciclo de entendimento para cumprir as leis. Apesar destes que frequentam a sinagoga muitas vezes continuarem a ter uma vida trêif/não cashér (o que fortemente obstaculariza a ascensão espiritual deles), ainda assim eles têm um entendimento maior do que aqueles que também têm uma vida trêif, mas apenas e unicamente estudam Torá sem cumprirem as mitsvót, devido à ausência da Or Hozer. Existem muitos outros detalhes relativos à difusão dos estados de Chéssed e Guevurah e os assunto de Tiferet de Z’eir Anpin, mas por hora, é mais importante explicar que, e última instância, através do recebimento e transmissão da inspiração que originou em Chochmah e Binah, Z. A. amadurece. Isto ocorre quando o fluxo emocional é enraizado em kedusha e assim, na expansão da consciência (ou podemos chamar de o “desenvolvimento intelectual”), pois expandir/desenvolver a mente é assunto exclusivo da retificação do séchel/intelecto pela Torá. Isto ocorre quando a luz dos estados de Chéssed (originários em Ima) chegam de volta e influenciam o Keter de Z. A. Deste modo, todo o sistema emocional (Z’eir Anpin) agora se torna alinhado às ideias de Torá. Tecnicamente, o Ari”zal explica que o “rebote” ocorre no nível de Yessód de Z. A., o ponto convergente da força de expressão emocional (logo antes da descida para Nukva). E através da realização desta expressão emocional para “fora”, por assim dizer (ou seja, para Nukva), todo o partsuf ganha em maturidade interior. Deste modo, as emoções amadurecem, literalmente. A razão é, pois a auto-realização e a propagação disso são caminhos de auto-validação. Isto significa uma verdadeira reconstrução do “Eu/Ego” na imagem do que se está projetando. É por isso que, por exemplo, quando ensinando assuntos profundos da Torá, o interlocutor aparenta ser ainda mais elevado do que em seu estado de repouso, por assim dizer. Pois o falar (Nukva) de Torá (Aba e Ima), devido à força emocional motivadora (Z’eir Anpin), “reconstrói” a pessoa/mestre na imagem do que está sendo projetado, como ser de fato um talmid/aluno do Ari”zal, ou seja, um homem de Torá. Assim, quando participamos deste processo extraordinário, temos que “encarar” a situação (o falar de Torá, ou conduzir em uma conversa, etc.), o que acaba nos amadurecendo. Por isso que o Talmud ensina que, “Eu aprendi muito dos meus colegas, mais ainda de meus mestres, mas acima de tudo de meus alunos” (Ta’anit 7a). É sempre importante ter uma agenda de Torá, o que certamente engrandece a pessoa e a ajuda a se retificar, se tornando assim reta e digna, se D-us quiser.