Ao contrário do que se pensa normalmente, o tachlit (“propósito de vida”) da pessoa não são os outros. Eu quero dizer, pensamos que é através das coisas que fazemos que incluem tudo que tratamos com outras pessoas, que o tachlit se afirma em nossa vida. Deste modo, damos importância exagerada para o “teatro da vida”, quando na verdade o tachlit é o nosso desenvolvimento como kli d’kedusha (“um recipiente santo”). O homem reclama: “Eu quero mais isso, eu gostaria mais daquilo etc.”, mas um foco assim manifesta um tachlit iludido, pois entrega um poder a outrem que de fato deveria ser concentrado nos esforços do auto crescimento. Veja: o mundo e seus assuntos são o caminho para a revelação e refinamento do tachlit e que através disso outras pessoas são afetadas e esperamos, ajudadas. Os assuntos de nossos afazeres no mundo servem principalmente para criar as condições de nossa evolução pessoal. A primeira alma a ser salva para salvar o mundo (aludindo a MishnaSanhedrin 4:5) é a própria alma da pessoa. Não existe Redenção sem primeiro existir a redenção individual.
“Avrahamavinu reconheceu a caverna de Machpelah através de um sinal” (Zohar 127a, ChaiyêSarah). Os tsadikim/retos reconhecem intrinsecamente a kedusha que é a santidade de qualquer coisas ou local. E “Ya’acov aproximou-se e o beijou. Yitshak aspirou o cheiro de suas roupas e o abençoou. Ele disse: ‘Vê, o cheiro do meu filho é como o cheiro de um campo abençoado por Hashem” (Bereshit 27:27). O reto reconhece o ‘cheiro da roupagem’ que encobre as coisas do mundo (olám). De fato, o mundo é somente ele mesmo um “encobrimento” (hélem, etimologicamente relacionado a olám) da verdade e essência das coisas que efusam dele. Mas este encobrimento, esta roupa, não encobre a verdade da essência espiritual das coisas para o tsadik, que sendo ligado a Hashem, reconhece em tudo o grau espiritual que exala de sua essência. Quanto mais espiritualmente sensível e equilibrada a pessoa é, mais ela percebe o Divino em tudo. O contrário também é verdadeiro. Veja, ao “cheirar” (ou seja, perceber) a realidade, Yitschak avinu a eleva espiritualmente, pois perceber a verdade significa remover a klipah/casca/ilusão por isso está escrito que depois de cheirar Ya’acov, “Yitschak o abençoou”. E também: “E o cohen/sacerdote que faz a purificação fará apresentar ao homem que se há de purificar, e a estas coisas, diante do Eterno, na entrada da Tenda da Reunião” (Vayicra 14:11, Metsora). Agora purificado/elevado, a pessoa pode estar no Sadê asher Hashem berachô, “Campo abençoado por Hashem”, de guemátria (mispar katán) igual a 47, a mesma guemátria de Yigdal, “Seja grande”. E a guemátria (mispar katán) deste passúk/verso do Vayicra é 208, a mesma do nome Yitschak.