Na parashá Shemini, a Torá traz a lista de animais kashér e também os não kashér os quais as almas judias (e somente e unicamente elas) precisam observar com cuidado para não se contaminar. De fato, tão importante é a comida kashér para um judeu, que através dela a alma é beneficiada o que preserva o fluxo de entendimento espiritual no séchel/intelecto. E como explica o Zohar, “A pessoa que busca o da’at eliyón/entendimento superior precisa preservar a sua boca das comidas que profanam sua alma, assim como dito que ela deve manter a sua língua longe das palavras maldosas [que também mancham a alma, assim como as comidas impuras” (41a, Shemini). A ideia central é que a boca afeta o séchel. A comida não kashér bloqueia o coração, tornando‑o insensível à espiritualidade. Esta comida não permitida para um judeu, causa um bloqueio da sua própria força vital. Para uma alma judia, é muito grave comer qualquer coisa que não seja kashér. Este bloqueio no seu coração cria um véu que encobre a sua percepção sobre as verdades da Torá. Ela fica restrita à compreensão racional-mundana/rebaixada. Deste modo, o seu entendimento sobre D‑us se torna corrompido, mantendo-se então imaturo, e em última instância frio. Verdadeiramente, a pessoa que consome alimentos trêif (hebraico para “não kashér”) não consegue de forma alguma se tornar sensível aos assuntos Divinos. E isto resulta em um “ciclo espiritual” negativo: ela não consegue se tornar sensível aos assuntos de Torá, e assim, ela consome cada vez mais o que é proibido, o que faz com que ela fique mais distante ainda da Torá que é sua a Fonte de vida. Enfim, ela duvida de tudo que é espiritual e se desliga de D‑us, assimilando-se ao mundo vão e fútil, sem D-us. Em sua consciência repleta de “paredes”, limites que são na verdade guevurót/severidades de seus julgamentos sobre as coisas da vida, ela assim acredita que todos os assuntos espirituais não tem o menor sentido. E assim como é dito, משדד-אב יבריח אם בן מביש ומחפיר Meshaded-av yavriakh em ben mevish umakhpir, “O filho que age de forma reprovável e vergonhosa maltrata seu pai e afugenta sua mãe” (Mishlei 19:26). Misticamente, “pai” (Aba) significa Chochmah/Sabedoria e “mãe” (Ima) significa Binah/Compreensão. Portanto, quanto o “filho” se comporta de modo desalinhado com as leis da Torá e mancha, ou seja, traz vergonha para sua própria alma, ele assim “maltrata”, ou seja, traz dano real para chochmah que é a sua capacidade psíquica e intuitiva, correspondendo à função do lado direito do cérebro. E ao mesmo tempo, ele “afugenta”, a saber, perde o fluxo racional/binah que corresponde ao lado esquerdo do cérebro. Portanto, toda a dinâmica básica de sua mente superior é afetada, rebaixando algo de seus aspectos fundamentais que outrossim são naturalmente destacados na alma judia, agora mantida prisioneira de sua revelação. Em suma, o filho diminui e constrita seu ser em baixo e no alto também. De fato, vemos uma dica vital sobre isso na guemátria ordinal deste verso do Mishlêi que é 245, o mesmo valor numérico da expressão אדם קדמון Adam Kadmón, “O Homem Primordial”. Em Cabalá, Adam Kadmón representa a própria essência e início primários da criação – da diferenciação entre Criador e criatura – portanto, do TsélemElokim/Imagem de D-us na qual o homem foi criado. É vital para o judeu romper com este ciclo negativo através da teshuvá – o retorno ao estado de alinhamento com as verdades espirituais e à vida reta e digna da Torá.